14 de fevereiro de 2011

Meu (L)abirinto!


O fim de noite inspira-me; e incomoda! (Talvez, a meia-noite sossegue a madrugada.) O pensamento estaciona em desejos e angústias: transporto-te na memória. Há dias em que o tempo esconde-te de mim, outros há em que tudo é você. Embrenho-me, então, por ruas e estradas, ou erro por uma cartografia de emoções gastas. Ocorre-me em revista o dia em que te encontrei por acaso. Vestias uma camisa preta, aberta e…eu observava a vontade que tens sob o pescoço, entre a turgescência do peitoral, à distância de um beijo. Apetecias-me tanto!

O teu perfume tão profundo…Como se pode descrever o cheiro de alguém? Como se pode reproduzi-lo? Podemos guardá-lo numa gaveta da memória, longe do esquecimento, ou evitar que os outros também se apaguem? Tive sempre o cuidado, enquanto te beijava, de te cheirar o pescoço, o ponto onde sinto que reside a essência do teu perfume, penetrante e puro. O próprio ar não consegue modificar o teu perfume. Inspira-o, tal como eu, e embriaga-se. Apetecias-me tanto!

E aproximei-me…
O beijo cresceu, tornou-se grande e amadureceu, e com uma lenta e intencional progressão transformou-se num corpo completo, num arrepio, numa humidade libertadora. E apertei-me contra o teu corpo. Tu sorriste, porque tu sorris sempre. Ainda hoje detesto como o teu sorriso me agrada. É como se os batentes da porta do Paraíso se abrissem lentamente e iluminassem o teu rosto. Amei-te desde o nosso primeiro aperto de mãos. Amei-te e tive medo. Não te deveria ter tocado. Aqueci-te com a minha respiração, mas não soube resistir a essa tua aura fecunda. Pensei que fosses capaz de me purificar, que me fosses tornar mais forte que os demónios do meu espírito obscuro. Porém, convocaste medos perdidos no tempo, paixões violentadas, sonhos com asas quebradas…

O tempo expirou e não se pode voltar atrás. Se nascêssemos equipados com um manual de instruções, abri-lo-íamos e leríamos: como funcionamos, como nos desligamos, como nos recarregamos… Não me arrependo, arrepender-me seria apagar uma experiência, tirar um tijolo de uma parede. Mas não consigo evitar alguma tristeza. Contigo, saí da escuridão. Sem ti todos os dias caminho na sombra. Trago-te na pele. Apeteces-me tanto!

Um comentário:

  1. ''O teu perfume tão profundo…Como se pode descrever o cheiro de alguém?''

    Você descreveu: 'profundidade'... é tudo que pode-se dizer. Não há como explicar o cheiro ou o gosto de quem amamos. É diferente de tudo.

    ''Convocaste medos perdidos no tempo, paixões violentadas, sonhos com asas quebradas…''

    Nada como usar o amor de quem também nos ama para vencer o medo, e colar novamente as asas quebradas dos sonhos. Sonhos vividos (a)de dois...

    ''Trago-te na pele. Apeteces-me tanto!''

    Senti arrepios ao ler todo esse texto. Ele me invadiu de uma maneira tão intensa!
    Personagens ganharam vida em minha imaginação...

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