22 de janeiro de 2011

Danostalgia.




'A saudade é o sentimento mais incrível que pude conhecer. Eu sinto saudade do cheiro, da voz, do som que ouvia, de quase tudo que sentia. Como um buraco que nada preenche a saudade fica lá. Batendo firme, trazendo angustia, trazendo o transbordar de todos os turbulentos momentos os quais vivi, ela chega de mansinho e faz até rir no inicio. Sorrir sozinha, sabe como? Daquele dia em que deu tudo errado e tivemos que voltar pra casa molhados de chuva, da noite em que gargalhamos por horas por alguma coisa idiota, mas era com alguém especial, e por isso, tudo se fez novo, era tudo gracioso. Saudade sem tradução, sem muita explicação, simplesmente a saudade. Depois dos momentos de sorrisos lembro que nada é mais assim. As coisas mudaram, tempos se passaram e hoje são só boas lembranças. Aí eu pergunto: O que faço com os dias que se tornam compridos, com as noites que vejo se tornarem dia, com a eterna falta do que dizer? Por mais longe que se está de alguém, a pior das saudades são aquelas que se sabe previamente, que não vai ter como sanar. Não se acha nas prateleiras dos supermercados os sorrisos, abraços, rimas de amor, a amizade sem tamanho e muito menos aquele amor antigo. Nem a preços altíssimos, que dirá em promoção, meu caro. Melhor do que chocolate, melhor do que um dia na praia, melhor do que o teatro, do que a cor e o som é a presença consentida, é gesto, é a sinestesia, é amor puro, é a fragrância que se sente e se percebe com o olhar. As manias, as coisas bonitas, as noites olhando o luar, o empréstimo não só do livro, mas também de um sorriso que talvez eu não possa esboçar. Ah, a presença é coisa boa de cultivar, não ? Sentimos dores de todas as coisas, mas quando a dor é de saudade, não há verbo que possa traduzir, não há antitérmico que abaixe a temperatura, não há analgésico que cesse a dor.Fui ao médico esses dias, e sabe o que ele falou?

- ‘Aspirina da presença, querida, não há nada melhor pra essa dor.’



(Dara Bandeira)

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